by: deltahl
 
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Eu não sou muito de escrever postagens para meu site, quando criei o blog pensei que postaria mais, acabei deixando ele em espera, porém nos últimos dias e semanas andei pensando muito em um assunto, que eu acho que vale a pena escrever, nem que seja de recordação, porque é algo que eu acredito que tem chances de se concretizar e porque eu quero que no futuro, quando acontecer, esteja pelo menos escrito, para as pessoas olharem para trás e dizerem que estava certo, igual Atlas em 2011. Porque é justamente para onde o mundo parece estar caminhando.

Internet sem fronteiras

Hoje a Starlink não tem fronteiras. Em 2022, no Irã, protestos enfrentaram censura, mas qualquer pessoa com uma antena da Starlink e visão para o céu tinha internet livre porque o sinal da Starlink foi liberado de forma gratuita. Em Agosto de 2024 quando as contas do X e da Starlink foram bloqueadas no Brasil, o Musk cogitou liberar o serviço de internet até o impasse se resolver para a empresa dele no país. É um serviço de internet que não pode ser barrado de jeito nenhum. E no futuro, quando esse serviço existir direto nos celulares, o mundo caminhará para uma era em que a comunicação será incensurável. Esse mundo é possível, já existem SOCs (system on chip) sendo desenvolvidos pela Qualcomm e Mediatek para viabilizar esse acesso a internet. Nesse cenário, mesmo que agências reguladoras e ministérios de governos tentem impedir e acabem não permitindo, acontecerá do mesmo jeito.

A tecnologia é inevitável. Por quê? Porque é mais simples e barato fabricar um único modelo de celular e desativar funções por firmware do que fazer vários modelos de celulares diferentes e vender um em cada continente diferente para atender legislações. Isso abre margem para atualizações OTA (over-the-air) reativarem. Porque a tecnologia sempre é, e sempre foi status, as pessoas sempre buscam ter novidades, viajar para Flórida ou Assunción comprar o último iPhone. Quando esses telefones começarem a chegar ao Brasil a classe média e o resto do país vão querer ter também, e com o tempo desses telefones vão chegar no mercado de usados, e no fim, todo mundo vai ter. É tentar proibir TVs coloridas em um país que só tem TVs em preto e branco, ou proibir as pessoas de importarem computadores. As pessoas vão buscar maneiras de ter. É possível impedir a inovação?

Isso terá um lobby gigantesco, empresas de tecnologia pagarão políticos para a tecnologia ser liberada e se beneficiarem, vendendo como ferramenta de desenvolvimento. É uma ferramenta geopolítica. E não será só com Starlink. A Amazon também tem o Projeto Kuiper com o mesmo objetivo: lançar satélites de acesso de internet. Porém, o que eu penso, é que a ideia deles não é só rivalizar com a Starlink. É saturar a baixa órbita, e impedir que outras empresas, e países (como China e Rússia) lancem satélites depois.

Uma corrida ao controle da comunicação global, e à capacidade de conectar e informar livremente.

E também penso que não será só com internet.

A área que controla todas as outras.

Para entender porque não será só com internet, é preciso entender que a computação é a única área que conecta todas as outras. Ciência, governo, saúde e medicina, educação, indústria, finanças, entretenimento, arte, esportes, segurança, jornalismo, geografia, logística, transporte, comunicação, agricultura, engenharia, direito, marketing, defesa, turismo, ... Todas as áreas conseguem se aperfeiçoar e se ligarem uma às outras através da computação. A engenharia é aperfeiçoada pelo uso de CAD e simulações (matemática) em computadores. O turismo, é aperfeiçoado pelas reservas online, pelo compartilhamento de roteiros e experiências (comunicação e marketing) pela internet. A geografia? Mapas digitais, sensoriamento remoto, coleta e transmissão de dados via satélite, monitoramento ambiental, modelos de previsão de clima e desmatamento, (estatística) fazem a geografia ser muito aperfeiçoada pela computação.

E o ponto principal, é que a mudança não para. Computadores estão sempre melhorando e a internet está sempre evoluindo, sempre estão surgindo novas ideias, cada passo é mais eficiência, mais alcance, mais impacto. O avanço não para, ele só acelera. O elo aberto pela computação entre a economia e a comunicação, é o que eu vejo que está crescendo, mais tem potencial político e mais vai mudar os próximos anos. Por quê? Porque o dinheiro dita as relações entre as pessoas.

GENIUS: Quem controla a comunicação, controla o dinheiro.

No início desse ano, Donald Trump, 45º e 47º, presidente dos Estados Unidos da América assinou uma lei no início desse ano que permite as instituições financeiras autorizadas pela SEC a emitirem ativos digitais lastreados no dólar. Em países como Argentina, Líbano, Turquia, Honduras, Equador, Cuba e Venezuela, a população já protegeu ou protege seu poder de compra com dólar. Com o avanço das economias digitais, a tendência natural é os ativos digitais baseados em dólar, as stablecoins de dólar, substituírem o dólar físico.

E o que a Starlink tem a ver com isso? Se não é possível controlar a comunicação, não é possível controlar o envio e recebimento de ativos digitais. Impor câmbio forçado, limitar entrada e saída de capital de um país se torna impossível. E se as pessoas recorrem ao dólar para proteger o seu capital em crises governamentais, e os celulares tiverem acesso à internet de forma global pela Starlink, a economia americana irá crescer muito, pelas stablecoins serem lastreadas em Treasury Bills, Notes e Bonds, que financiam a dívida e expansão dos EUA. Logo, o Governo dos EUA irá apoiar. E também, porque é algo que enfraquece governos autoritários. Imagine poder exportar sua moeda, dívida e influência sem precisar de tanques nem embaixadas? Toda potência gostaria de ter isso. Porém com isso, as empresas de tecnologia que já controlam comunicação, vão controlar o dinheiro, e não mais os governos. As stablecoins de dólar, "dólar digital", por serem lastreadas em títulos de curtíssimo prazo da dívida americana, também geram rendimento para o emissor da stablecoin (e não para quem detém a moeda). Se esse modelo escalar, a nível global, as emissoras também terão um poder econômico alto.

O ponto interessante disso tudo, é que quanto mais incompetente um governo é, maiores são as chances desse plano dar certo. Por quê? Porque as pessoas não querem perder o poder de compra, não querem ver suas economias sendo diluídas, não querem ver limites e impostos sugarem o dinheiro, não querem financiar viagens caras, jantares de luxo, carros oficiais, e auxílios retroativos de políticos. Onde a desigualdade cresce, a informalidade reina. As pessoas vão inevitavelmente buscar um jeito de proteger o que é delas.

Vai parar no dólar?

"Ao menos o PayPal tinha uma missão nobre — do tipo que os céticos pós-bolha mais tarde descreveriam como grandiosa: queríamos criar uma moeda nova na internet para substituir o dólar americano." - Pether Thiel, De Zero a Um.

Esse plano? A intenção, pelo menos, eu acredito que sim. Em 2014, Thiel já pensava nisso; o Facebook tentou a Libra em 2016. As empresas de tecnologia tinham planos maiores. Criarem as suas próprias economias. Porém repensaram, e o que eu vejo, é que não querem revolucionar. Querem reformar. Moldar ao seu favor. Ao invés de derrubar o jogo, querem entrar nele e controlar as regras por dentro. Elon Musk se tornando figura aliada no Governo dos EUA e a Palantir estar fechando contratos com o governo dos EUA é símbolo disso; das empresas de tecnologia estarem se aproximando de governos. Porém ter acostumado as pessoas com o PIX (que levará as pessoas a conhecerem o dólar digital) criou nas pessoas familiaridade com moedas digitais. Isso pode levar a algo maior, um efeito em cascata. Porém isso tudo é um jogo de xadrez. Enxergar dois ou três passos na frente é fácil, possível, oito ou quinze, não. O futuro só o tempo dirá. O que é certo dizer é: internet por satélite vai moldar a economia global e não há nada que se possa fazer, assim como uma empresa muito boa no que faz cria monopólios, uma mudança que se encaixa no mundo atual e supre necessidades é inevitável. O tempo demonstra por si só o que é possível.

Governos tentam regular o que já não controlam

Algo que também quero comentar, é que o Estado vai se render às empresas de tecnologia. Não por escolha, mas por incapacidade. Os governos estão trabalhando para não ficar para trás: o BACEN no Brasil e a HKMA (Autoridade Monetária de Hong Kong) conduziram testes reais de conectividade de sistemas financeiros com a Chainlink, países vêm testando a criação de CBDCs com a Hyperledger Besu da Linux Foundation (que é uma implementação do cliente Ethereum em Java, que permite criar uma própria rede com consenso alterado e próprio "livro contábil", mas, que por ser compatível com os programas da EVM, permite interoperabilidade de uma CBDC com outra), o que se nota, é que há uma corrida entre big techs de reformar o sistema de dentro, e de governos de reconstruir o próprio sistema. Mas, ironicamente, para não ficar para trás, os governos estão dependendo de empresas de tecnologia para desenvolver, integrar e operar essa infraestrutura nova. Porque a estrutura pública não tem nem a agilidade, nem o talento, nem a infraestrutura necessária para acompanhar o ritmo de inovação do digital. Isso só vai acelerar. Nos próximos 10 anos, veremos o fruto de uma inovação nunca antes vista.

Brainstorm:

Conversa sobre o poder das big techs, internet via satélite, e a influência do dólar digital

Conversa sobre a suspensão do projeto DREX pelo Banco Central do Brasil, e a diferença entre CBDCs e stablecoins privadas